História em quadrinhos em língua indígena de sinais está disponível para pré-venda

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Recursos arrecadados vão ajudar a capacitar professores indígenas para lidar com alunos indígenas surdos

Já está em fase de pré-venda a história em quadrinhos (HQ) “Sol, a pajé Surda”, escrita em língua indígena de sinais e que é resultado do projeto de conclusão do curso de Letras do acadêmico Ivan Souza, da Universidade Federal do Paraná  (UFPR). O trabalho é desenvolvido em parceria com o Instituto de Pesquisa da Diversidade Intercultural (Ipedi), para quem serão revertidos os valores arrecadados com a venda da HQ. “Com o dinheiro arrecadado vamos realizar um curso para professores indígenas terena sobre língua indígena de sinais, para que eles atendam aos a alunos indígenas surdos”, explica Denise Silva, presidente do Ipedi.

“A história acontece antes do século XV, quando a personagem principal Káxe, a pajé surda, é chamada para o ritual típico de solicitar benção aos ancestrais ao nascer uma criança”, conta o autor da HQ, Ivan Souza.

A impressão da HQ contou com apoio da Prefeitura de Miranda, MS, por meio da Lei Aldir Blanc. Portanto, alguns exemplares serão distribuídos gratuitamente para escolas indígenas de Miranda, cidade com a maior concentração de índios terena do Brasil.

A história em quadrinhos é toda em língua de sinais indígenas  terena e foi escrita por Ivan Souza após um intenso trabalho de pesquisa, com a coordenação da professora  doutora Kelly Priscilla Lóddo, da UFPR.

“A história acontece antes do século XV, quando a personagem principal Káxe, a pajé surda, é chamada para o ritual típico de solicitar benção aos ancestrais ao nascer uma criança. Nesse momento, junto à benção, a pajé recebe a visão do futuro do povo terena por meio de imagens. Dessa forma, o desenvolvimento da narrativa perpassa os principais momentos históricos: desde o início do povo terena (Aruak) datado de antes do século XV, percorrendo o caminho geográfico que os terenas realizaram até se fixarem, em sua maior parte, na região do Mato Grosso do Sul”, conta o autor Ivan Souza.

Indígenas surdos, da etnia terena, possuem uma língua própria para se comunicarem, a língua terena de sinais (LTS). Ao contrário do que muitos pensam, ela é diferente da Língua Brasileira de Sinais (Libras). O fato de a pluralidade linguística não ser marca no contexto educacional brasileiro, a falta de diferenciação as duas línguas de sinais no processo ensino aprendizagem dificulta ainda mais a aquisição dos saberes dos aprendizes indígenas surdos. Grande parte dos profissionais que atuam nas escolas indígenas estimulam unicamente o uso da Libras por ser uma língua de sinais reconhecida legalmente no Brasil. No entanto, para esses aprendizes, a Libras funciona como segunda ou terceira língua  e não como a primeira língua, a materna. Dessa forma, além de não terem metodologias para o ensino de segunda língua acabam enfraquecendo a identidade cultural dos alunos surdos, dificultando ainda mais o aprendizado deles, que já enfrentam obstáculos para se comunicarem devido à surdez e colocando a língua terena de sinais em um maior risco de extinção.

Ivan Souza destaca a importância da HQ para dar visibilidade à língua de sinais indígena. “Desde o início, o objetivo era fortalecer o reconhecimento e a preservação das línguas de sinais indígenas e dialogar com a importância de não realizar o mesmo processo histórico de monolinguismo que ocorre com a língua oral (português)”. Para ele a pluralidade de línguas deve ser preservada. “Queremos levar a ideia de que o monolinguismo exclui, diminui e não valoriza a pluralidade linguística e nem auxilia na aquisição de conhecimentos. A transmissão dos saberes em suas línguas maternas, independentemente da língua que se tem em dominância, trata-se acima de tudo de um direito constitucional”, completou.

Serviço

Aqui , a pré-venda da HQ. Toda a renda será revertida para o Instituto de Pesquisa da Diversidade Intercultural (IPEDI), bem como para seus projetos educacionais.

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