Tania Maria Pellin
O que pode existir de tão fascinante que faz com que renunciemos a algo concreto
que vivemos em troca de algo abstrato, que foge as explicações cabíveis no mundo
físico?
Diz um provérbio chinês, “Há três coisas na vida que nunca voltam atrás: a flecha
lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida,” A palavra “seta” traduz um
termo hebraico que significa “flecha”. Sem dúvida, na antiguidade as flechas
ocasionavam grandes estragos num campo de batalha. A mesma era disparada a
distância, não precisava estar próximo, mas era tão veloz, a ponto que seria quase
impossível afastar-se dela.
Quando somos atingidos com uma seta, perdemos o rumo, o desejo inconsciente se
manifesta, perdemos a razão, agimos com emoção!
Ligamos as flechas ao cupido, ah cupido! Brincalhão, a ferir corações. Muitos estão
despercebidos no dia a dia, e, quando despertam eis ai a traição com suas variadas
explicações, seja: infidelidade sexual, infidelidade emocional, infidelidade direta,
infidelidade virtual, infidelidade física, infidelidade com envolvimento emocional,
infidelidade hedonista, entre tantos outros nomes que a mesma adquiriu.
Segundo o terapeuta Celso Marzano, são vários os motivos que levem a este
problema emocional, tais como: sensação do perigo, sensação de poder, vingança,
necessidade de autoconfiança, vaidade, insatisfação, rotina e carência.
Nelson Rodrigues diz “Só o inimigo não trai nunca”.
A infidelidade significa a quebra de confiança entre amigos; aquele que trai mente
conscientemente, pois o mesmo sabe que sua conduta não está correta. Muitos dos
infiéis estão em um relacionamento monogâmico, sua mente vagueia, imagina estar
com outro alguém. Não é sincero com seu parceiro (a), o mesmo teme perde-lo caso
descubra seus devaneios.
Já ouvi por diversas vezes um dito popular, “quem ama não trai” a que diga que não, é
categórico em afirmar, mas os psicólogos e sociólogos afirmam que sim, quem ama
trai.
E quando um beijo retrata uma traição?
A maior traição de todos os tempos está descrita na Bíblia, Judas Iscariotes, sim, ele
mesmo um dos doze apóstolos de Jesus. “Ele não traiu “simplesmente” uma pátria,
um partido ou uma ideologia. O mais famoso traidor da história é até hoje lembrado
como o sujeito que deu uma rasteira no filho único do Todo-Poderoso. E pior, segundo
a Bíblia, Judas entregou Jesus Cristo aos soldados romanos em troca de míseras 30
moedas de prata”.
Muitos séculos se passaram desde o ocorrido, e Judas continua a ocupar o topo do
pódio, maior traidor de todos os tempos. Aquele que iludi com um beijo, o discípulo
que trai o Mestre. Nos dias atuais tantos almejam estar na posição de um discípulo de
Jesus, e este o desaponta. Irônico.
Jean-Jacques Rousseau, salienta: “todo ser humano nasce com um projeto vencedor.
O problema é que para se enquadrar nas regras sociais muitas vezes o indivíduo se
trai, abre mão do próprio caminho em troca de ser aceito.”
Entre as traições possíveis, considero a mais caótica, a auto traição. O ser trai a si
mesmo, neste, quebra-se a aliança original do amor, citamos o exemplo de Adão e
Eva, ambos se traíram ao desejar algo que a eles foi proibido. Romperam o vínculo do
amor incondicional apresentado a eles por Deus. O desejo orgulhoso, a desobediência
em querer ser igual a Deus os privou do Paraíso.
Entre provérbios, ditos populares e outros, algo é certo, por muitas vezes nos
deixamos ser levados por uma falsa crença de que somos livres, queremos voar, sem
compromisso, sem ter que dar explicações a outrem. Mas o mundo real exige mais de
nossa pessoa. Precisamos viver de acordo com as normas da sociedade. Sejam elas
antiquadas ou extravagantes. Para sermos aceitos pela maioria precisamos nos
submeter a tais pressupostos, ou driblar aquela que consideramos inconveniente.
Fique atento, se a flecha do cupido for direcionada a você, evite ficar na mira da
mesma, porque ele, o cupido, não erra o alvo.