Tania Maria Pellin
Num mundo liquido moderno, os valores tornam-se porosos, fazemos o contrário do que poderíamos ter feito. Inverte-se a ordem natural das coisas, para uns absolutamente normais, para outros nem tanto. Mudanças e transformações são notadas em todos os segmentos da sociedade. Fazer juízo de valor não resolve, muito menos ajuda; mas juízo de fato é perceptível a olho nu.
Voltar ao passado é viver no passado, sabemos não ser possível, o homem é fruto do seu tempo e nosso tempo é este. Das transformações culturais, dos hábitos e costumes, da Sociedade Liquida onde tudo é perene. Mas o que de fato é o certo? Como podemos saber diante da realidade o que convém? A sagrada escritura nos transmite o seguinte ensinamento no livro de 1 Coríntios 6:12 “Tudo me é permitido”, mas nem tudo convém. “Tudo me é permitido”, mas eu não deixarei que nada me domine. Diante de tal afirmação, cabe a cada um de nós interpretar o que nos convém, fazer o que convém, quando convém.
Vivemos em um mundo totalmente transformado, pare e indague: Como tudo era a cinquenta, vinte anos atrás, sem internet, sem redes sociais, sem sobressaltos? Como era a educação das crianças? O que a presença da família significava no desenvolvimento infantil? Estamos vivenciando um novo tempo. Tempo este que deixou de priorizar a família em si, dando espaços a outras opções.
Como educamos nossos filhos em meio às incertezas e mudanças radicais de comportamento, hábitos, costumes? Sabemos educa-los ou delegamos a outros a tarefa? Outros dificilmente dirão não, o não é delicado e cabe aos pais dizer. Aquele simples não deveria ser sustentado, depois de alguma insistência por parte da criança, o mesmo acaba virando sim, e a criança acometida da Síndrome do Imperador, reina em meio a birras, beicinhos e gritos.
Estamos juntos nesta difícil tarefa de educar e dizer não, também me incluo.
Viemos de uma geração de pais autoritários, onde os pais determinavam o que comer, vestir e por aí vai. Içami Tiba, no brilhante Quem Ama Educa ressalta, Os filhos desses pais se revoltaram contra o autoritarismo. Sofreram tanto com tal método de educação que quiseram dispensá-lo ao se tornarem pais. Então trataram de negá-lo, fazendo radicalmente o contrário. E assim, tornaram-se extremamente permissivos.
Diante dessa realidade observamos a face oposta ao autoritarismo, a permissividade.
Surge então os pequenos ditadores, os absolutos da autoridade, de acordo com o livro O Reizinho mandão, de Ruth Rocha: era um daqueles que as mães fazem todas as vontades. E eles ficam pensando que são os donos do mundo. Estamos nos referindo ao comportamento de algumas crianças que observamos nos supermercados, escolas, parques.
Não estamos sabendo como lidar com esta geração. Estamos diante da Geração Alpha, Para Dalpiaz (2018), pela primeira vez na história uma geração de pessoas mais jovens consegue lidar – no sentido de manusear – com as novas tecnologias melhor do que a geração dos mais velhos. Crianças e jovens que nasceram neste século dominam celulares, computadores e outras invenções melhor do que seus pais.
Diante disso, vemos uma inversão de valores, os filhos ensinam os pais, os alunos os professores a manusear determinados aparelhos, que para alguns, são totalmente algo que lhes tira da zona de conforto, temendo em apertar um botão e danificar o aparelho.
Fica aqui a indagação que ainda não encontrei uma resposta eficaz: O que causou esta situação de Reizinho mandão?
Às vezes penso que nós adultos também devemos ser reeducados no amor, compreensão, empatia, paciência, largar a tela do celular e apertar com carinho os filhos no peito, sentir seu coração e o toque suave de sua fronte, que não é mesma coisa que Touch screen.
Para Içami Tiba, a geração parafusos de geleia desconhece o não. Tudo é permitido, nós adultos as vezes também queremos ser o Reizinho mandão.
Tania Maria Pellin. Graduada em Pedagogia pela Faculdades Integradas de Naviraí – FINAV, em 1996, Naviraí/MS. Especialista em Psicopedagogia pelo Centro Universitário da Grande Dourados – UNIGRAN, em 2007, Dourados/MS. Atua como professora na Fundação Lowtons de Educação e Cultura – FUNLEC/ Bonito/MS.