“Ele tinha febres repentinas. Naquele dia, ele passou a noite inteira com febre, eu dando remédio, cuidando dele… Mesmo assim no outro dia cedinho eu tive que leva-lo pro hospital. Nós estávamos esperando a vez de sermos atendidos quando ele começou a tremer. Eu achei que ele estava falecendo. Eu gritei, a enfermeira veio, me levou lá para dentro. Ele estava tendo uma convulsão. Foi a primeira vez que ele teve convulsão comigo. Este foi o dia mais difícil pra mim”.
A fala é da Márcia Lima da Silva, 49 anos. É o que ela respondeu quando perguntamos quando foi o momento mais difícil do período em que seu filho adotivo, o pequeno July enfrentava uma verdadeira batalha pela vida. Naquele “dia difícil” da vida de July, ele tinha pouco mais de um ano de vida e a Marcia estava ainda no processo de adoção.
July foi vítima de complicações neonatais. A falta de oxigenação no cérebro causou paralisia. “Ele teve oito tipos de infecções neonatais”, diz Marcia. De madrinha, Márcia tornou-se tutora do frágil bebê. “A intensão não era adotar como filho. Era cuidar dele até ele ficar bem de saúde, para depois devolvermos à família biológica”, conta a dona de casa.
Os desafios de cuidar de uma criança com tantos e tão sérios problemas de saúde, não sufocaram o instinto materno que começava a florescer. “O amor foi crescendo, foi crescendo” lembra Márcia, que já tinha um casal de filhos biológicos adolescentes à época – idos de 2007.
“No começo era tudo muito novo. Eu estava me sentindo com um avião nas mãos, sem saber pilotar” compara Márcia, que detalha: “eu não sabia nem dar comida para ele, porque ele engasgava muito”.
July chegou a ser desenganado por um dos médicos, que acreditava que ele não teria mais que três meses de vida.
Foram anos de muita luta. Em certas oportunidades, Marcia precisava passar uma semana fora de casa, com July de médico em médico, na capital do estado, Campo Grande, a 210 quilômetros de Miranda, onde eles moram até hoje.
Paralelo aos esgotantes tratamentos de saúde, a adoção foi concretizada e July ganhou o sobrenome Lima da Silva, de Márcia e do seu esposo, Domingos. “Valeu muito a pena, porque graças a Deus ele foi uma benção na minha vida. Para mim foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida foi adotar o July”, afirma Márcia. “O amor que eu sinto pelos meus dois filhos biológicos, eu sinto por ele”.
Hoje, com treze anos, July é a alegria da casa. “Ele está um rapazinho, jogando capoeira, sabe ler, sabe escrever”, orgulha-se Márcia. “Minha luta nunca foi em vão, ele correspondeu a todas as minhas expectativas de melhora para ele. Isso me dá um prazer enorme”, finaliza Márcia – uma mãe que, como tantas outras, enfrenta o mundo pelos filhos.