FALAS FEMININAS – Reconstruindo alicerces

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No mês de março, quando comemoramos o Dia Internacional da Mulher, abordar o desequilíbrio na representatividade feminina em quase todos os campos da vida é tema praticamente obrigatório. A nós, mulheres, datas simbólicas são essenciais. Momentos em que somos ouvidas. Para galgarmos posições de destaque, ainda temos de “chutar a porta” muitas e muitas vezes.

Desde que, em 2015, tomei posse como Senadora, percebi que os meses para conseguir aprovar matérias da pauta feminina são março, agosto e novembro, quando ocorre o tal “esforço concentrado”. Outra constatação é que também é quando alcançamos consenso fácil para votar propostas relacionadas à violência contra a mulher. Mas, quando sem trata da garantia de mais espaços de poder e equilíbrio entre os postos de comando, a disposição muda. O Senado está dando um passo importante neste sentido, com a criação da Liderança da Bancada Feminina. A partir de agora, teremos maior protagonismo na elaboração da agenda da Casa. Queremos nossas pautas na Ordem do Dia do Congresso ao longo de todo o ano, e não somente nas chamadas “datas especiais”. Que a nossa “ordem do dia” possa ser o ano inteiro. Isso também faz parte do empoderamento feminino.

Eleitas, muitas mulheres enfrentam a chamada “violência política” Brasil afora. Sofrem assédio, preconceito e, até, ameaças. A divisão do trabalho nos corredores da política é desigual, com a exclusão das mulheres dos âmbitos decisórios de coordenação e liderança.

A barreira eleitoral permanece como grande desafio. Ainda não conseguimos superar as últimas posições no ranking mundial de representação feminina na política. Também somos vítimas da fraude das “candidaturas laranja”. Algo como 65% das candidaturas sem voto em 2020 eram de mulheres, segundo o Tribunal Superior Eleitoral.

Sou autora de uma proposta que poderá ajudar na reconstrução dos alicerces da política brasileira. O projeto (PL 4391/2020) exige que os partidos tenham mulheres em, no mínimo, 30% dos seus cargos de direção. O texto ainda prevê composição igualitária nos órgãos de juventude das legendas. Isso propiciará uma constante renovação da política, mas sem os vícios do passado.

Com mais mulheres no comando, com vez e voz dentro dos partidos, teremos outro olhar na escolha das candidatas. Elas procurarão lideranças femininas com real potencial para vencer as eleições. Assim, poderemos virar a chave da política em busca de uma relação mais equilibrada entre homens e mulheres eleitos, para que possamos caminhar unidos na representação do conjunto da sociedade. Afinal, a ideia de Mais Mulheres na Política está intimamente ligada ao ideal de cidadania.

Simone Tebet é senadora pelo MDB-MS. Ex-presidente da CCJ

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