Nossa sociedade vem sendo construída ao longo dos séculos, formando conceitos, edificando valores, estabelecendo critérios de uma vida em coletividade. Obviamente que entre um país e outro divergem leis, formas de se viver com o outro, mas a grosso modo vemos conceitos parecidos que edificam o respeito ao direito do outro, as formas de convivência, matrimônio, crimes contra bens e contra a vida, entre tantos outros. Uma das questões veementes da sociedade diz respeito à questão de gênero, à questão de direitos e deveres entre homens e mulheres. Esse é um tema latente na sociedade, às vezes de forma velada e às vezes de forma “nua e crua” podemos chamar de machismo.
A negação do machismo é a forma mais inerente de torná-lo mais forte. É comum que ele seja fortalecido por ações constantes do dia a dia sem ao menos que nos déssemos conta. A questão é que esse machismo se “desdobra” em ações, atitudes e crimes. Dessa maneira, nos cabe lembrar momentos de nossa história, não tão remotos assim, mas que marcam nossa trajetória no reconhecimento da mulher como um ser igual ao homem.
Todos vimos no nosso período escolar, o quanto as mulheres eram deixadas em segundo plano, sem que suas opiniões tivessem quaisquer validade, sendo apenas usadas para procriar e educar os filhos. Não tínhamos direito a estudar, a ter uma profissão, a votar, a participar da política, exercer cargos públicos.
Esse passado parece distante, mas não é. Sabem o Dia da Mulher, que comemoramos com presentes, o que não deixa de ser bom, mas vai além da comemoração, ele é um marco histórico para lembrarmos da luta pela igualdade. Em 1917, na Rússia, mulheres se reuniam no movimento conhecido como Pão e Paz, onde mulheres com seus filhos pequenos, pediam pelo fim da guerra para que os homens retornassem ao lar após anos de batalha. Seis anos antes um tragédia marcou a data, 130 mulheres morreram carbonizadas numa fábrica têxtil em Nova York, presas no nono andar do prédio porque não podiam sair da sala para descansar, se alimentar ou mesmo ir ao banheiro, diferente dos outros andares da fábrica com trabalhadores homens. A ONU – Organização das Nações Unidas reconhece a igualdade entre homens e mulheres, apenas em 1945.
Aqui no Brasil, não foi diferente: 1918 – Primeira mulher no funcionalismo público; 1932 – Mulher conquista direito ao voto; 1960 – Mulher passa a ter o direito de usar pílulas anticoncepcionais. Apenas em 1988, a Constituição Federal reconhece a igualdade entre os homens e as mulheres brasileiras. Entretanto, não evitou a continuidade da violência contra a mulher. Casos registrados diariamente, impunidade, opressão, levaram no ano de 2006, a criação da lei Maria da Penha e em 2015 da Lei do Feminicídio.
Com esses dispositivos legais, vemos que cada vez mais casos são denunciados e mulheres se livram do ciclo de violência, entretanto todos os dias vemos notícias de feminicídios, ameaças, abusos sexuais, físicos e psicológicos. Mulheres que ainda não se sentem seguras, seja pra denunciar, seja pra manter a denúncia. Mas por que uma vítima de violência, que sofre não denunciaria ou retiraria a denúncia? Ouvimos muito:
-Ahhh, essa aí é mulher de malandro! Gosta de apanhar!
Ou ainda: – Mereceu, vive de roupa curta, se aparecendo!
Mas será que é isso mesmo? Será que isso não é fruto da nossa história machista e estamos reproduzindo toda essa bagagem herdada de geração em geração? Cabe reflexão. Muitas mulheres sofrem hoje. Muitas mulheres não saem da relação de abuso por diversos motivos: financeiro, emocional, psicológico, etc. Cada caso cabe uma reflexão, cabe um olhar diferenciado. Acolher mais e julgar menos, pode ser o caminho. Sempre uso uma frase com quem discorda de mim: E se fosse com a sua filha? Você pensaria da mesma forma?
Ora, porque nosso sexo determina o que somos, ou em qual lugar devemos estar. Concordo que temos nossas particularidades e, cá entre nós, não abro mão delas. Não queremos ser homens, queremos apenas ser mulheres respeitadas pela nossa capacidade de fazermos dez coisas ao mesmo tempo, pela nossa intelectualidade, pela nossa sensibilidade, pela nossa opinião! Nos respeitem! Podemos oferecer muito mais, do que nos oportunam. Tentamos ocupar nosso espaço, tentamos não deixar dúvidas da nossa capacidade, que em alguns lugares precisamos provar que temos essa capacidade. Tentamos sim, e às vezes conseguimos. Entretanto, não podemos basear a sociedade apenas em histórias assertivas, muitas de nós continuam tentando falar, tentando serem ouvidas, tentando… apenas tentando!
Elange Ribeiro Perez, graduada em Serviço Social epla Universidade Toledo de Presidente Prudente – SP desde o ao de 2002, especialista em Políticas Públicas e Gestão da Clinica nas Redes de Atenção à Saúde pelo Instituo Sírio Libanês. Efetiva na Prefeitura Municipal de Miranda, ex-gestora de Assistência Social, Saúde e Turismo e Meio Ambiente, atualmente exerce seu terceiro mandato como vereadora na Câmara Municipal de Miranda – MS.
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