Procurei palavras para começar esse texto, mas é como se elas teimassem em se esconder de mim. Talvez eu não seja muito boa para falar na primeira pessoa, então por isso, vou pegar emprestado um trecho de uma música do Jota Quest, que um dia já usei para Bia, mas cai ainda melhor para ela:
Pareço contigo, Normal e do avesso…Pareço contigo, Sem mais nem porquê
Talvez seja muito clichê dizer que me pareço com ela, que aprendi tudo que sou, inclusive a ser mãe, porque tive ao meu lado uma mulher forte e corajosa, que enfrentou o mundo ao meu lado e nunca me deixou desistir. Mas essas palavras tem um significado intenso; me lembro da primeira vez que tomei consciência disso de uma forma mais concreta: estava sentada na mesa da casa deles, acho que já estava na faculdade e tinha vindo visitá-los, servi uma xícara de café, coloquei um pouco de leite quente e cruzei as pernas de algum modo que me fez olhar para ela e dizer: cara eu virei você!
E quer saber? Que bom que existe tanto dela em mim e que nela existe um tanto a mais da mãe dela e que agora, também já existe um tanto de mim na Bia. A gente é o que aprende, o que vive. São os exemplos que nos fazem fortes, as experiências que nos fazem crescer – hoje eu sei o quanto ela lutou para que as minhas fossem as melhores possíveis.
Lembro-me de ter uma infância feliz, ser amada, protegida, mimada. De ver ela acordar cedo, deixar tudo pronto, para que pudéssemos ir para escola na hora certa – alias, escola que ela sempre correu atrás para conseguir bolsas de estudo e quando não dava, tirava de que fosse necessário para garantir o melhor ensino para nós três.
Hoje somos adultos, dois formados e a caçulinha da casa, daqui um ano será a médica da família, então a missão ainda não terminou né, nem ela e nem meu pai abaixaram a guarda ainda, precisam formar a última filha, aí sim, quem sabe sobre tempo para pensar neles.
Lembro dos meus tantos chiliques de adolescente – meu Deus, foram muitos – em que eu fazia dela sempre a vilã e ela suportou, segurou, assumiu culpas que nem lhe cabiam, mas foi firme, disse não quando era preciso e ainda estava lá para me amparar quando eu insistia em desobedecer suas ordens.
Ela sempre foi meu melhor colo e talvez até nos fez um pouco dependente de mais hehehe. Lembro da dor absurda da separação, quando tão livre decidi ir para faculdade. Eu chorei por muito tempo, só porque não tinha o colo dela todo dia. Depois veio a Bia, eu passei de filha para mãe, e pude entender ainda mais a complexidade dessa palavra.
Foram tantos desafios, tantas brigas, tanta coisa né mãe, mas hoje ela é minha amiga, minha companheira, daquelas que eu sento para beber uma cerveja e falar do dia. A vida me trouxe para perto do ninho de novo e quer saber, que bom. Se tem uma coisa que a gente aprende nessa vida, é que não existe no mundo, um amor maior que esse e um colo mais quentinho.
Uma homenagem Kemila Pellin para sua mãe, Maristela Pellin