Adoráveis mulheres. O anjo bom da Bahia

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Tania Mara Pellin

Para Irmã Dulce, o Anjo bom da Bahia, tudo o que acontece no universo tem uma razão de ser; um objetivo. Nós como seres humanos, temos uma só lição na vida: seguir em frente e ter a certeza de que apesar de as vezes estar no escuro, o sol vai voltar a brilhar. Escolher Irmã Dulce para falar das mulheres, é escolher o que elas têm de melhor, fé, garra, coragem, vontade de vencer, determinação, e, sobretudo, um coração generoso.

Nós mulheres sempre seguimos em frente mesmo no escuro, vencemos obstáculos. Trabalhar, ser mãe, avó, tia, madrinha, amiga, profissional, solidária, e, ainda achar tempo para ser mulher. Carregamos na bolsa quase tudo, instrumentos de trabalho, cartões, documentos, esperanças, desejos, frustações, e também um lindo batom, afinal gostamos de ser mulher, ter charme e beleza. Ah, temos mulheres de quilates e mais quilates, o que dizer de Cecília Meireles, Chiquinha Gonzaga, Clarice Lispector, Tarcila do Amaral, Ruth Rocha, Cora Coralina, Ana Néri, Anita Malfatti, Anita Garibaldi, Irmã Joana Angélica. Irmã Joana, foi morta a golpes de machadinha ao defender o Convento da Lapa em Salvador, da invasão de soldados portugueses contrários a Independência em 1822.

No entanto, as mulheres que mais admiro, são as anônimas, aqueles sem visibilidade histórica, mas que constroem no dia a dia nossa grandeza, cuidando dos filhos, da casa, do marido, aquelas que engolem o choro quando o filho não chega ou marido se atrasa, se desesperam com a panela vazia. Nossas adoráveis mulheres, sempre mulheres.

Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes, simplesmente Irmã Dulce, nasceu em 1914, em 1933 entrou para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, em São Cristóvão, Sergipe e em 1934 fez os votos de fé.

Dedicou sua vida em favor dos necessitados. Numa época em que a mulher era marginalizada, ela saia as ruas a evangelizar. Não temia o que poderia lhe acontecer, o amor era maior que qualquer obstáculo que se impusesse entre ela e o seu chamado.

Desde muito jovem rezava muito e ajudava a mendigos, carentes e enfermos. Aos treze anos foi recusada em um convento, por ser muito jovem. O tempo passou e o sonho ardia mais em seu coração. Ela sabia exatamente o que queria. Tornou-se professora primária e no ano seguinte com 19 anos finalmente iniciava sua carreira religiosa.

Nesta época, as mulheres ficavam reclusas nos conventos. Dulce tinha sede em salvar vidas, nem as paredes altas do convento a impediram de sair e colocar em prática tudo que aprendera.

Imagino, uma jovem noviça tentando com todas as forças, as vezes contra suas vontades e desejos ajudar ao carente. Por ser professora, tinha uma vantagem, estaria mais próxima as meninas na época, e poderia aconselhar já que quando menina perdeu sua mãe. Trazia consigo o carisma e a experiência.

No ano de 1949, um fato se destaca na vida de Dulce, sem ter onde abrigar cerca de 70 pessoas enfermas, pessoas estas que ela recolhia nas ruas. A irmã com habilidade e força de vontade, transformou o galinheiro do convento de Santo Antônio em um abrigo. Anos mais tarde o lugar, se transformou em um Hospital.

Uma mulher, brasileira, que com seu jeito simples e humilde conseguiu atrair a atenção do Presidente do Brasil José Sarney, da rainha Silvia da Suécia, e até mesmo do Papa João Paulo II.

Como ela mesma recitou, “tudo no universo tem uma razão de ser”, ela não teve receio do pensamento humano e julgador da época, não cruzou os braços frente ao desespero de muitos que sofriam pelas ruas, ela fez a diferença. E, como diz, as vezes estamos no escuro, não sabemos o que esperar, mas com oração, dedicação e fé, o sol volta a brilhar.

Nós mulheres sempre temos razão de ser. Sempre com bolsa na mão, levando esperança, determinação e batom, afinal, beleza e graça nos fazem sempre mulher.

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