Mato Grosso do Sul pode voltar ao centro do cenário político nacional, agora pelas mãos de uma mulher. Simone Tebet, senadora por MS pelo MDB, pode ser a primeira mulher a presidir a casa em quase 196 anos de história. Mas, para isso, ela tem um árduo caminho a percorrer. Sua candidatura foi confirmada tardiamente em vista da candidatura de seu adversário, o senador mineiro Rodrigo Pacheco (DEM). Tebet não tem o apoio do Planalto. O presidente Jair Bolsonaro prefere Pacheco que, ironicamente, também tem o apoio do PT. A senadora emedebista se coloca como uma candidata independente, “nem de situação, nem de oposição” e prega a importância de o Senado ser uma casa independente.
Nesta entrevista exclusiva ao Bonito +, em franca campanha pela presidência do Senado, Simone Tebet evita polemizar com o Governo. A senadora fala sobre o auxílio emergencial e os desafios que enfrentaremos na pandemia nos próximos meses, sobre empoderamento feminino na política, avalia a atuação do governador Reinaldo Azambuja (PSDB) na pandemia e fala sobre as denúncias de fura-fila da vacinação.
Confira.
BONITO+ : Senadora, qual a sensação de disputar a presidência do senado, uma cadeira que já foi ocupada por seu pai, o ex-senador Ramez Tebet?
SIMONE TEBET – É uma emoção muito grande. Meu pai foi exemplo, mentor, referência na minha vida. Entrei na política pelas mãos dele que, como homem à frente de seu tempo, já via o quão positivo era participação de mulheres na política.
Por coincidência do destino, fui seguindo os passos de Ramez Tebet, desde a formatura em Direito na mesma universidade. Depois, tornei-me professora universitária, deputada estadual e prefeita de Três Lagoas, quando, infelizmente, ele faleceu. Segui em frente na construção da minha trajetória política e, agora, se eleita, serei a primeira mulher a presidir o Senado em quase 200 anos de história. É um desafio. Tenho a memória do meu pai a zelar e o compromisso com todos os brasileiros. Ser a primeira a comandar o Congresso Nacional aumenta a minha responsabilidade. Representa, também, o empoderamento feminino. Espero que este protagonismo estimule mais mulheres a se interessarem por política.
“Precisamos nos unir ao Executivo, num esforço conjunto, para solucionar a crise sanitária, garantir a importação dos insumos necessários à fabricação das vacinas”
BONITO+ : Mato Grosso do Sul tem tido relativo destaque no cenário político nacional. Nomes como os da ministra da Agricultura Tereza Cristina, do ex-ministro da saúde Luiz Henrique Mandeta e mesmo o seu como uma das principais lideranças nacionais do MDB têm frequentado o noticiário político. MS ganhou, enfim, peso político?
SIMONE TEBET – Certamente. A atuação dos políticos sul-mato-grossenses em Brasília tem aumentado a credibilidade do nosso estado no cenário nacional. Isso é muito positivo. É inevitável que tal projeção contribua para que os olhos se voltem para MS e isso possa se refletir em mais investimentos e crescimento econômico para beneficiar a nossa população.
“Prefiro falar dos acertos. Acho que temos de pensar na união em favor do Brasil. Prefiro acreditar que o presidente Bolsonaro, que negou a gravidade da pandemia, agora está atuando para viabilizar a chegada dos insumos necessários à fabricação das vacinas no País”.
BONITO+ : A sua candidatura é uma candidatura de oposição ao governo de Jair Bolsonaro?
SIMONE TEBET – Não. A minha candidatura é de independência. Não sou nem da situação, nem da oposição. Um exemplo é que no balanço das minhas votações eu fui mais favorável às pautas do governo do que o meu adversário, candidato da situação.
A postura independente na presidência do Congresso Nacional é essencial para garantir que não haverá subserviência ao Executivo. A independência dos poderes é fundamental, a dependência fere a democracia e o Senado Federal sempre foi instado nos momentos mais difíceis a se posicionar como porta de saída das crises.
Ao falar de independência e harmonia entre os poderes, estamos reafirmando nossa intenção de dialogar, de pautar as matérias importantes para o País de maneira democrática e republicana.
BONITO+ : Sob seu ponto de vista, quais serão os principais desafios para o Senado em 2021?
SIMONE TEBET – Em primeiro lugar, precisamos nos unir ao Executivo, num esforço conjunto, para solucionar a crise sanitária, garantir a importação dos insumos necessários à fabricação das vacinas e auxiliar, no que for de nossa atribuição, em relação ao plano de imunização em massa da população contra a covid-19.
Ainda são poucas doses e temos de buscar soluções para garantir a universalização dos imunizantes o mais rapidamente possível para que a população possa voltar a trabalhar com tranquilidade, dentro da normalidade, sem riscos de novos lockdowns.
O arrefecimento das desigualdades sociais é um dos tristes legados da pandemia. Não podemos deixar a população passar fome e outra pauta urgente é a prorrogação do auxílio emergencial, com responsabilidade fiscal. É possível achar saídas sem precisar mexer no teto dos gastos, seja através de cortes de gordura, seja através de uma possível medida provisória, criando créditos extraordinários muito bem delimitados, para que o mercado entenda que esse é um gasto necessário, mas não um gasto permanente.
As reformas tributária é outra medida que precisa sair do papel este ano. Temos de aprovar um texto que garanta justiça, sem aumentar impostos para a população mais pobre e a classe média. Mas o governo precisa dar o tom e o encaminhamento do esqueleto dessa reforma para que nós possamos fazer a arquitetura do conjunto do texto.
“Vamos acatar a reivindicação da bancada feminina de ter mais voz ativa e de pautar matérias relacionadas às mulheres ao longo de todo o ano e não apenas em março, quando se comemora o Dia Internacional da Mulher”.
BONITO+ : E por que a senhora seria o nome mais indicado para conduzir o Senado neste momento?
SIMONE TEBET – O Senado tem uma importância institucional fundamental para a democracia. À frente da Casa, precisamos de alguém com independência e capacidade de articulação e de diálogo para promover amplos debates. Meu nome foi escolhido pelo MDB, maior bancada da Casa, também por entender que eu tenho essa capacidade de aglutinar e promover consensos neste momento tão crítico que estamos vivendo.
BONITO+ : O senador, Davi Alcolumbre (DEM-AP), tentou uma manobra para obter a reeleição na presidência do Senado. Foi barrado por uma decisão do Supremo Tribunal Federal. O que a senhora pensa sobre a reeleição para a presidência do senado?
SIMONE TEBET – A Constituição permite a reeleição da Mesa do Senado e da Câmara, desde que em Legislaturas diferentes. O que se quis fazer foi alterar as regras do jogo com a partida já começada. A tentativa de reeleição do atual presidente do Senado só poderia ter acontecido por meio de Proposta de Emenda à Constituição, com respeito a todos os ritos que o processo legislativo impõe: ampla discussão nas Comissões e Plenário, votação em dois turnos, aprovação por 3/5 nas duas Casas. Tal solução se mostrou inviável num ano em que o Congresso pouco se reuniu presencialmente. A outra opção, que seria permitir alteração de tal monta com base apenas na mudança regimental, foi corretamente rejeitada pelo STF.
“O auxílio emergencial é mais do que necessário, é humanitário. Ainda há muitos desempregados e vulneráveis no País”
BONITO+ : Qual é o quadro geral, hoje, da eleição? Parte da imprensa tem noticiado dificuldades para que a senhora conseguisse viabilizar seu nome como a candidata emedebista?
SIMONE TEBET – O meu nome já está viabilizado e é uma realidade. Estamos com a campanha “na rua”. Notícias inverídicas a respeito da unidade do MDB ou da inviabilidade da minha candidatura fazem parte do jogo. Não estão nos desestabilizando. Começamos mais tarde do que o adversário. Minha candidatura só foi lançada no dia 12 de janeiro. Vários partidos manifestaram apoio ao oponente antes de saberem que o MDB escolheria o meu nome.
Tenho conversado com todos os parlamentares sobre as nossas propostas, a nossa visão de um Legislativo mais democrático e atento aos anseios da sociedade. Retomaremos as reuniões do Colégio de Líderes para definir a pauta. Vamos acatar a reivindicação da bancada feminina de ter mais voz ativa e de pautar matérias relacionadas às mulheres ao longo de todo o ano e não apenas em março, quando se comemora o Dia Internacional da Mulher. Estou esperançosa e trabalhando muito pelo sucesso da minha candidatura.
BONITO+ : Qual o seu posicionamento sobre a possível extensão do auxílio emergencial?
SIMONE TEBET – O auxílio emergencial é mais do que necessário, é humanitário. Ainda há muitos desempregados e vulneráveis no País. Mas a prorrogação do auxílio deve ocorrer dentro de parâmetros determinados com o Ministério da Fazenda, que detém os números. A primeira coisa é fazer um filtro daqueles que realmente precisam ser beneficiados. O valor terá de ser o possível, infelizmente, não o ideal. O que não podemos é extrapolar o teto de gastos, comprometer a âncora fiscal, a dívida pública, o controle da inflação.
BONITO+ : Como a senhora avalia a gestão do Governo Federal no combate à pandemia, especialmente no episódio das vacinas que começam a ser aplicadas no Brasil?
SIMONE TEBET – Prefiro falar dos acertos. Acho que temos de pensar na união em favor do Brasil. Prefiro acreditar que o presidente Bolsonaro, que negou a gravidade da pandemia, agora está atuando para viabilizar a chegada dos insumos necessários à fabricação das vacinas no País.
“A reforma tributária é outra medida que precisa sair do papel este ano. Temos de aprovar um texto que garanta justiça, sem aumentar impostos para a população mais pobre e a classe média”.
BONITO+ : E o Governo Estadual? O desempenho das autoridades sanitárias estaduais e do próprio governador no combate à pandemia tem, na sua avaliação, sido exitoso? Faltou algo?
SIMONE TEBET – O Mato Grosso do Sul já recebeu 180 mil doses de vacinas. Sabemos que o número é insuficiente para imunizar toda a população, mas isto é um problema em todo o País e está acima da atuação dos governadores e prefeitos. A entrega do primeiro lote das vacinas no nosso estado em 24 horas para todos os 79 municípios demonstrou eficiência no planejamento de logística. Já estão ocorrendo a vacinação dos profissionais de saúde da linha de frente contra a pandemia de Covid-19. Em seguida serão os idosos que vivem em casas de repouso, portadores de deficiência em residências inclusivas e indígenas.
Infelizmente houve denúncias, em todo o Brasil, de pessoas que furaram a fila. Nestes casos, é preciso investigação e punição exemplar.