Por Tania Maria Pellin
Graduada em Pedagogia pela Faculdades Integradas de Naviraí –
FINAV, em 1996, Naviraí/MS. Especialista em Psicopedagogia pelo Centro
Universitário da Grande Dourados – UNIGRAN, em 2007, Dourados/MS. Atua como
professora na Fundação Lowtons de Educação e Cultura – FUNLEC/ Bonito/MS.
Em uma breve reflexão, vamos recordar a ”educação”. Nas civilizações da antiguidade, a educação era voltada a formação das elites, onde escrita, leitura, cálculo eram essenciais na formação dos jovens, com ênfase na retórica – arte de falar. Em Roma a educação era voltada para a exaltação da pátria e arte da guerra. Para Cambi, “ Tanto na Mesopotâmia como no Egito, a educação aparece nitidamente articulada segundo modelos de classe […] serão estes os caracteres estruturais de quase toda a tradição antiga, também grega, helenística e romana. (CAMBI, 1999, p. 67-68).
A Reforma Protestante em 1517 não apenas abalou os altares, mas promoveu a universalização do acesso à leitura e escrita, acabou por impor os rudimentos da instrução para todos. O objetivo era proporcionar o acesso à leitura dos textos sagrados, e a quebra do monopólio clerical sobre sua interpretação. Já na Revolução Industrial, os pais estavam impossibilitados de assumir a educação dos filhos pelas jornadas extenuantes de trabalho. Dessa incapacidade, surgiram ideias da criação de uma instituição social, capaz de assumir as funções educacionais impostas aos pais. Para Gilberto Luiz Alves, coube a Comenius, o mérito de conceber a escola moderna, pensada como uma oficina de homens (ALVES, 2001).
No Brasil, uma das vozes a defender a Escola para Todos, foi Anísio Teixeira, pioneiro na implantação de escolas públicas, pois acreditava na Educação para Todos. Idealizou a Escola em Tempo Integral e participou do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova em 1932. Para Anísio Teixeira a educação é uma necessidade em nosso tipo de civilização (TEIXEIRA, 1985, p.397).
Mesmo sendo uma necessidade e formadora de cidadãos, a educação não está acessível a todos. Num passado, nem tão distante assim, a educação das mulheres no Brasil, iniciava-se com a convivência de senhoras reclusas em seus lares com meninas órfãs portuguesas, indígenas, negras. Dessa tríade cultural, nasceu o modelo da mulher brasileira. A ausência da educação escolar feminina à época colonial coincide com a construção social dos gêneros, das práticas sociais e da servidão.
No Brasil – colônia, o homem decidia as ações. Era ele quem dominava, por meio da família patriarcal. Aliás, a palavra família vem de famulus, uma expressão latina que quer dizer: escravos domésticos de um mesmo senhor. Ou seja: todos deviam obediência ao senhor patriarcal. Sua esposa e filhas também. Elas o chamavam de senhor meu marido; senhor meu pai ”. Esta é apenas uma pequena amostra a que as mulheres estavam submetidas.
As meninas? Ah, as meninas, estas eram educadas essencialmente para o casamento, para administrar o lar. Tinham instruções de coser, bordar entre outras funções. Aprender a ler? Eram raras as meninas moças que eram privilegiadas com tal ato. Percebemos que ainda nos dias atuais, encontramos muitas mulheres sem instrução educacional, que precisam marcar um documento com a digital. Sendo constrangedor para as mesmas.
Constatamos, que no decorrer dos séculos, dos anos, a educação formal tem evoluído. O que era no passado restrito a somente as classes sociais mais elevadas, e, diga-se de passagem, a “elite” masculina, hoje tornou-se público e de acordo com a Constituição Federal de 1988, todos têm direito a educação, Art. 205: A educação, direito de todos e dever do Estado e da família.
Salientamos aqui a importância do educador, desde os tempos remotos até os atuais, a presença da figura é essencial no desenvolvimento da criança. Ensinar pode ser perigoso, o Mestre tem nas mãos o mais íntimo dos seus alunos, matéria frágil e incendiária, toca na alma e nas raízes ” O grande ensino é aquele que desperta dúvidas, que encoraja a dissidência, que prepara o aluno para a partida (STEINER, (2005).
Como professora a mais de 20 anos, tive e continuo tendo nas mãos esta matéria frágil e a oportunidade de viver algumas fases da educação, o mimeógrafo, o giz, a carteira conjugada, a xerox e agora a era digital e as Redes de Informação.
Em menos de 10 anos saímos do mimeógrafo, daquela folha onde se rodava os trabalhos, passava pelo álcool para se obter as cópias, aquele cheiro que invadia nossas salas de aula. Alguns alunos sentiam o cheirinho e ficavam felizes, indicava que teriam atividades diferenciadas. Sem o uso do quadro negro, o giz. Lembro-me do uso do mesmo. Chegava antes que as crianças e usava giz colorido para produzir um lindo desenho no quadro para os alunos visualizarem na chegada, lhes saudando com boas vindas.
Na sequência saí do quadro negro, passei a usar o quadro branco, pincéis multicoloridos fazendo a alegria da garotada. Os alunos desta época, nem imaginam o que seja um mimeógrafo, se pudessem observar o uso dos mesmos ficariam maravilhados e ao mesmo tempo perplexos – logo pensariam em museu.
Atualmente, no lugar do quadro negro, tela do computador, data show, evoluímos, o quadro negro, giz colorido, quadro branco, pincéis colorido, estão se tornando ferramentas do passado. Hoje, colocamos uma linda imagem de oceanos, paisagens com melodias que despertam a vontade de aprender em nossos alunos. Evolui-se rapidamente.
O ensino passou por várias fases, mas não imaginávamos que no presente atual teríamos o calor da sala de aula, substituída pela fria tela do computador. Que a algazarra do recreio, silenciaria e nas escolas desertas, pássaros, e outros animais da fauna local passeariam livremente pelos corredores e pátio da escola – havia chegado a pandemia.
Estamos vivendo a era da tecnologia, tudo em nossa volta tem mudado em uma velocidade incrível, a dois anos, não podíamos imaginar como isso tudo poderia afetar a educação, e de repente uma guinada de 180 graus e é totalmente modificada. Vivermos tempos de incerteza e ao mesmo tempo de esperança, bem colocada na assertiva de John Kennedy “A mudança é a lei da vida, e aqueles que apenas olham para o passado ou para o presente irão com certeza perder o futuro”.
Tempos modernos, aulas virtuais, plataforma de estudo. Nossos pequenos nos surpreendendo vencendo obstáculos por eles encontrados no decorrer do percurso. Eles assimilam tudo com facilidade, e a aula, só vivenciada por universitários, passa a fazer parte da rotina diária da Educação Infantil ao Ensino Médio. A modernidade chega num momento em que ainda não estávamos preparados para atuar, sendo que de modo inusitado, tivemos que reaprender a ser professor diante as tecnologias. Conseguimos. Nos superamos.
Diante de tudo o que estamos vivenciando neste início de século, temos a certeza que certas mudanças ocorreram para nos tirar da agradável zona de conforto e voltarmos a ter desafios diários. Fico a imaginar o que nos espera em um breve correr de tempo. Se nossos alunos estão habituados com o ensino digital, como reagirão se tiverem que retroceder ao velho caderno e quadro negro.
O estudante que nasceu neste “tempo moderno” de aprendizagem precisará de algo superior ao que está habituado. Precisaremos como professores rever nossos conceitos em transmitir ao educando algo pronto, padrão. O desafio será para o educador algo que ele terá que buscar no seu íntimo e através de uma reflexão, se reinventar.
Nesta reinvenção, avaliações em folhas sulfites, trabalhos em folha papel pautado, serão coisas do passado.
Bem-vindo a era digital!