Tania Maria Pellin
Ao observar um idoso em seu silêncio, podemos por um momento até pensar que ele se encontra em outra dimensão. Aquele olhar parado, distante, rumo ao vazio, guarda segredos. Ele representa uma vida, vai além do que se imagina.
Não sabemos o que há por trás de uma janela, até que se abra junto com suas cortinas, desvendando sigilos. Ela pode esconder mistérios, intimidades, confidências, até que se revele é um enigma, que não se deixa perceber.
Se você pudesse observar através das janelas da alma de um idoso, talvez enxergasse a vida de outra maneira; entenderia o porquê daquele olhar perdido, distante, parecendo estar em outra época, em outro tempo. A tristeza de ser abandonado ou um amor impossível, o que de fato há escondido por trás daquelas marcas que o tempo deixou em sua face?
Em meio a seus devaneios, vemos um sorriso perdido, longe, que atinge apenas parte do rosto, ele se recorda de algo que o fez feliz no passado e viaja até aquele momento mágico, esquecido por todos, menos por ele.
Olhando para aquele passado, sem o vigor da mocidade, ele se vê, na sua intima inocência, sem saber como agir, parece que tudo foi ontem. Recorda tudo que viveu, seus sonhos conquistados, ou aqueles que ficaram guardados para sempre no seu íntimo. Ele analisa calmamente tudo que fez, e o que deixou de fazer. Talvez o que mais lhe cause dor, é o que deixou de fazer. Aquilo que por medo ou temendo ser julgado, não realizou.
Sem ter programado, ele pensa, pois tudo o que lhe resta nesta fase da vida, são seus pensamentos. Ele corre como uma gazela em meio a savana africana, com suas pernas longas e seu semblante assustado. Viaja em uma velocidade que só a mente conhece.
E assim correndo contra o tempo, recorda-se das escolhas e possibilidades, dos tempos da juventude. Agora, as portas que se abrem são limitadas. Talvez por um momento se pegue ao observar o berçário de uma maternidade, vê ali, seu primeiro filho, tão frágil, inocente, ansiando por cuidados, e percorrendo a trajeto até os dias atuais, vê este mesmo filho lhe negando um abraço, uma palavra, um momento de alegria,
Diante do idoso, as vezes por nós deixado de lado, ou ainda, aquele dos nossos sonhos, quando chegar nossa vez, deixo para você imaginar um final para este inacabado texto.
Que as rugas nos façam sentir a mão de Deus e com ela a certeza de uma vida longa e próspera.
Pensamentos de um idoso, quando as cortinas da janela se abre, tudo vem a luz do dia.