Tania Maria Pellin.
Pantanal, terra em que ainda podemos observar timidamente aquele singelo homem montado em seu cavalo a conduzir uma boiada. Trajado com o estilo pantaneiro, usa um grande chapéu de feltro marrom ou cinza, camisa acompanhando a cor do chapéu, sendo que a mesma é feita de um tecido muito resistente e um forte par de botas. Faz parte do traje uma capa, ou manta sobre os ombros com a finalidade de proteger do frio, ou chuva. Cada um tem sua traia – buçal, freio, chincha, peiteira, maneador, laço, água de beber e matula.
A Comitiva Pantaneira é rara beleza, “ Nossa viagem não é ligeira Ninguém tem pressa de chegar A nossa estrada é boiadeira Não interessa onde vai dar, Onde a Comitiva Esperança Chega já começa a festança”, nos versos cantados por Paulo Simões, as imagens ganham sons, cantam e encantam. As comitivas eram formadas por grupos de peões boiadeiros faziam os transportes das boiadas pelas estradas de terra, chamadas de “estradões”, de uma fazenda à outra ou da invernada para o matadouro, percorrendo grandes distâncias, durante dias a fio, que eles chamavam de marchas, antes do advento dos caminhões gaiolas e das estradas pavimentadas (GÓES, Aguinaldo José. As comitivas, 2005).
Esta cena tornou-se singular nos dias de hoje, pois o desenvolvimento chegou com os veículos motorizados, tornando o tropeiro uma profissão quase que extinta. Por tantos nomes conhecido como, carreiro, bruaqueiro, condutor de boiada, “no vai e vem que o mundo dá vai o seu rastro rabiscando pedras e areões” deixando para trás o pó e a saudade.
Por semanas conduziam tropas de cavalos, mulas, atravessavam extensas áreas transportando gado e mercadorias. Uma atividade que iniciou por volta do século XVII. Em tempos de um Brasil sem estradas, esses homens afoitos faziam a nossa história, conduziam gado e sonhos.
Ajudaram na comunicação entre pessoas, levando notícias, cartas e recados, nos caminhos percorridos, desbravavam matas e florestas, criaram novas rotas, caminhos, que passaram a ser usados com frequência. Nestes locais, foram surgindo pontos denominado pouso, onde descansavam, pernoitavam,
Por onde passavam, deixavam um pouco de si, influências culturais foram sendo disseminadas pelos tropeiros, as caravanas percorriam distantes regiões, ligando a região Sudeste, entre Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro entre outros. Os costumes culturais foram ocorrendo naturalmente. Eles deixaram sua marca, sobretudo, na culinária local, que, além das interferências de fora, de colonos e imigrantes, também foi influenciada pela cultura serrana e campeira.
Aquela roda em torno de uma fogueira acompanhada de estórias, mitos, e ao som de um violão ficou na memória de muitos que viveram este tempo, época de glória, de conquista, de ousadia, onde homens destemidos foram a marca.
A moça na janela a acenar, noite escura, os animais na mata, o medo, tempestades infindáveis, o sol escaldante e o som do berrante num lamento sem fim, tudo fazia parte do cotidiano desses homens que ajudaram a formar o nosso Brasil.
Aqui em Bonito nossa Boiadeira é patrimônio, guarda histórias de um tempo que se foi, mas permanece em nossas lembranças e corações, mas esta é uma outra história, por enquanto, segue seu caminho tropeiro… que no próximo artigo, nos reencontramos nesta jornada de sonhos e versos. Amores e paixões. Sonhos e esperanças.