Revolta silenciosa do sutiã – parte II

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Tania Maria Pellin

Na parte I destes pequenos apontamentos, falei sobre o alívio, com a criação do sutiã. O mesmo possibilitou as mulheres exporem suas marcas deixadas pelo tempo, não apenas marcas físicas, mas um sentimento de liberdade, livre dos padrões machistas e preconceituosos. A História das Mulheres, esteve a sombra do capricho dos homens enquanto transmissores tradicionais de cultura, reivindicar a importância das mulheres na História, significa lutar contra estereótipos. Uma destas ferramentas de luta é aquela gaveta das lingeries, onde cores e modelos variados, antes mantidos em sigilo, agora ganham graça e beleza, modela corpos e expõe desejos. O silêncio de milênios é abolido. Aos poucos as peças começam a ser expostas por detrás de peças transparentes. O proibido por crença ou pudor, se põe a mostra.

Em uma sociedade dominada por machistas autoritários, a mulher era deixada em segundo plano, submissa ao homem. Neste cenário, um inusitado fato ocorrido por volta dos anos de 1960, narra um episódio quase desconhecido: Queima dos Sutiãs. O episódio aconteceu em Atlantic City (EUA), com a participação aproximada a 400 ativistas. As mesmas protestaram em frente ao teatro onde ocorria o concurso Miss América, agitando no ar sutiãs e outros itens que simbolizavam a opressão das mulheres.

Lá estavam elas, protestando contra a ditadura da beleza, levavam consigo alguns símbolos da feminilidade, sapatos de salto alto, cílios postiços, meias finas, espartilhos e claro ele, o sutiã. Na manifestação, colocavam seus pertences em uma lata de lixo que deveriam ser queimados em protesto. Mas a queima nunca ocorreu. A mesma não foi autorizada. Mas o episódio ganha fama, tornando-se um símbolo da luta feminista.

A autora Arilda Inês Miranda Ribeiro, no texto Mulheres Educadas na Colônia, em sua obra “500 anos de Educação no Brasil”, afirma que as mulheres eram enxergadas, da mesma forma que as crianças e os doentes mentais, como o “imbecilitussexus”, isto é, o sexo imbecil. Numa sociedade patriarcal, a mulher era vista como um objeto, ficando a ela destinado os afazeres da casa, procriar e ser a protetora.

Foram muitos séculos em que éramos humilhadas, taxadas de “sexo frágil” sem direito a escolhas, sem direito a educação. Sendo transmitido a nós, mulheres, uma formação voltada ao lar. Não participávamos de atos políticos e não havia direito ao voto.

A luta feminina por igualdade trás consigo trágicas marcas, registros que potencializam esta tão sonhada igualdade. Nossas antecessoras percorreram um caminho de opressão e deixaram sua marca, seu legado.

Movimentos ocorreram, e ocorrem em vários locais do mundo, a luta sufragista não era vista com bons olhos, ocorriam confrontos com a polícia, e por portarem faixas, cartazes, tumultuarem o trânsito, promoverem incêndios, quebra de vidraças, as mesmas eram vistas com o desdouro de arruaceiras barraqueiras.

Curiosos movimentos seguem ativos, como A revolta dos bobes na Coréia do Sul, adolescentes quebram tabus, buscam a qualquer preço se livrar dos padrões estabelecidos.

Aqui no Brasil, não é diferente, segundo MarcellaKanner, chefe de comunicação corporativa da rede de lojas Riachuelo, no pós pandemia, os moletons foram as peças mais procuradas, a simplicidade toma conta das ruas, sem se importar com o visual, o adequado é vestir algo aconchegante. De repente, o estilo muda.

No século XXI, A geração feminina se revolta, deixa o espartilho, as anáguas, a roupa sob medida, para “andar descolada”, ou seja, usar vestes confortáveis. Torna-se a Mulher Empoderada, ela toma o poder sobre si, busca o autoconhecimento, se prepara, olha mais para si, ela tem a escolha de usar sua força. Reconhece que é capaz. Se supera!

Sabe aquela gaveta citada no início, então, esta mulher totalmente transformada, confiante, deixa lá seu sutiã. De repente, ela descobre que é naturalmente linda, que não precisa esconder, ou apertar seu corpo. Ela se aceita. Tem um potencial que a levará a conquistas jamais sonhadas em outrora.

Uffa! Que alívio.

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