Tania Maria Pellin
Vou falar um pouquinho de uma linda mulher, linda porque tinha um coração generoso. Seria bobagem dizer que sua aparência não fosse bela, era uma mulher de rara beleza. Dona dos olhos mais lindos que alguém poderia ter, de pele branca, e belos cabelos ondulados. Seu rosto tinha uma feição angelical. Um sorriso cativante. O tempo para ela não passava. Bonita sim, por dentro e por fora.
Chegava ao fim da tarde, ela faceira, pegava seu cesto tramado com bambu que mais parecia uma peça de decoração. Não posso deixar de citar aqui que os cestos vêm ganhando espaço nos ambientes decorativos, por serem versáteis e funcionais, sendo muito usado como cestas de presente, organizador de objetos e também para arranjos de flores.
As peças são produzidas manualmente em bambu maduro com uma alça em forma de arco. A bela mulher possuía alguns, que alguém calmamente confeccionou. Em seu cesto, continha suas inseparáveis agulhas e lãs, de muitas cores.
De posse de seu cesto, se assentava a varanda à espera de sua fiel amiga. Entre algumas agulhadas e outras, rolava a velha conhecida “fofoca.” Não que a mesma fosse maldosa, mas recordavam de toda a família, não se esqueciam de ninguém. Eram novidades intermináveis. Ah, também tinha os moradores da rua. Elas sabiam tudo e de todos. E, só comentavam não existia maldade em suas conversas. Assim, a tarde passava rapidamente, e logo era hora de preparar o jantar.
Outra tarde chegava é lá estava ela, sentada abaixo de uma frondosa árvore, em meio a suas belas plantas, ouvindo o som dos pássaros a cantar. E,seu gatinho a observar o movimento por ali, parecendo querer protegê-la. Ela, calmamente sentava, pegava duas agulhas, um novelo de lã e,lentamente começava a tramar aqueles fios. Os fios iam tomando forma puxa um fio daqui, puxa outro fio de lá e quando menos se espera, eis que surge um suéter. Nossa como é mágico isso tudo. Como aquelas mãos ágeis, de repente conseguiam fazer de um simples pedaço de linha ou lã, algo que serve para aquecer, esquentar alguém que sente frio.
E claro, não é uma simples peça, é mais, algo tecido com o coração, em cada ponto tramado, ela depositava um pouquinho de si. Uma pitada de amor, de esperança e sonhos. Sonhos de uma tarde de verão.
Hoje, ao passar naquela rua, tudo parece triste, a linda senhora, já não senta mais em meio às flores. Os pássaros parecem sentir, entoam um triste canto, sentindo sua ausência. O gatinho, não conseguiu proteger aquela que tanto carinho lhe dava, agora se sente perdido, vaga pela casa em busca, mas não encontra, permanece por ali, se mantém fiel.
Ah, e aquele cesto com suas agulhas ficou jogado em um canto qualquer da casa. Aquelas mãos que tanto teceram agora descansam em um eterno sono. De tudo que em outrora se viu, só restou às lembranças. Doces lembranças de uma meiga mulher que por esta vida passou. Aqui, deixou seu legado, com ela aprendi que persistir muitas vezes é necessário, e que a felicidade está em uma companhia, ou até mesmo por trás de uma lágrima que aquece a face.
Em memória daquela que por um tempo fez parte da minha história, Terezinha Canani.