A mudança de comportamento, uma doença de base, associado a fatores de ambiente social que a pessoa está vivendo em sua casa, sua família, seus relacionamentos, tudo isso converge para o sofrimento que conduz ao suicídio.
Bonito tem presenciado, principalmente nestes últimos meses do ano, uma sequencia triste de mortes prematuras. Do dia 25 de novembro, até está quinta-feira, 29 de dezembro, três jovens, com idade entre 22 e 39 anos, tiraram suas vidas e só nesta madrugada, mais dois tentaram fazer o mesmo.
Mas como falar sobre isso sem desrespeitar a dor de uma família, ou transmitir uma mensagem equivocada, que possa causar ainda mais sofrimento? Por isso o suicídio é um dos grandes tabus do jornalismo e geralmente, você não vê aqui informações sobre isso.
Porém em uma situação como esta, onde em uma cidade com pouco mais de 22 mil habitantes foram registrados tantos casos consecutivos, acende um alerta e uma necessidade urgente de realmente falar sobre o assunto. Por isso o Bonito Mais procurou especialistas para nos ajudar a entender, identificar e ajudar as pessoas que estão próximas a nós.
A psicóloga Pâmila Cruz, que atua no município pelo CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), explica que o suicídio tem uma causa multifatorial, que envolve conflitos familiares, bullying e uso de drogas.
“A primeira coisa que precisamos entender é que o suicídio não é sobre falta de Deus e não é frescura. Quem comete se encontra em uma dor tão profunda, que no momento que faz acredita ser a única opção. Mas quem comete não quer acabar com a vida, ele quer acabar com a dor”, detalha.
Pâmila detalha que é possível perceber algumas umas mudanças de comportamento, que podem indicar a intenção do suicídio, como isolamento ou diminuição do contato social, irritabilidade, tristeza, raiva, culpa, medo.
“Na verdade o suicídio não tem “cara”, até quem está sorrindo pode estar sentindo essa dor profunda e cogitando se suicidar. Por isto devemos olhar para o outro sempre com empatia e estar atentos a pequenos detalhes de quem convive conosco, oferecer apoio, ajuda e principalmente não julgar a dor do outro”.
Edilson Reis, psicólogo e coordenador de prevenção de suicídio do curso de Medicina da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) também falou sobre o tema, alertando para o quadro denominado desesperança, que é quando a pessoa não tem expectativa quanto ao seu futuro. “Quando esse quadro perdura por mais de duas semanas seguidas, é um sinal de alerta”.
O psicólogo fala ainda sobre as doenças psíquicas, que também são um sinal de alerta. “As doenças de base, como chamamos a depressão, também tem levado muitas pessoas ao suicídio. Ela é uma doença de alteração biológica, bioquímica, no cérebro, de desordem mental progressiva e incapacitante. Então temos que entender que é uma doença, que ela nunca está sozinha, ela sempre está associada a um grau intenso de ansiedade, mas infelizmente ainda é muito negligenciada, porque ela inicia num quadro de angústia profunda, onde nem a pessoa e nem os amigos percebem”, detalha.
Segundo o profissional é necessário entender que a depressão é uma doença de origem biológica e também circunstancial, com origem no ambiente social em que a pessoa está inserida, que é a família, trabalho, as relações intersociais, relacionamentos afetivos. Há ainda, fatores que desencadeiam a doença, como alcoolismo ou uso e drogas.
“Quase 30% das pessoas que cometem suicídio estão sobre uso de álcool ou drogas. O álcool inibe o sujeito e aumenta a impulsividade. Então são vários fatores que agem de forma complexa e que levam o sujeito a cometer o suicídio”.
Ok, levantadas algumas das possíveis causas e sintomas, o que podemos fazer para evitar que um ente querido chegue ao ponto de tirar a própria vida?
Bom, o especialista aponta que enquanto família, nós precisamos estar atentos a cada mudança de comportamento e buscar ajuda imediatamente, porque ninguém está realmente pronto para encarar uma situação como esta sozinho. Enquanto pessoa, que se encontra nessa situação de dor completa, existem canais de autoatendimento como o número 188, com profissionais capacitados para passar uma palavra de conforto e as informações necessárias para um atendimento especializado.
Já o Poder Público, deve promover campanhas, mostrando onde buscar ajuda, como buscar essa ajuda e contraponto, capacitar os profissionais para o manejo da crise suicida. “Devemos ver também como estão os professores, claro professor não é psicólogo e nem psiquiatra, mas eles podem ser o que a gente chama de primeiro interventor, identificar o problema entre os alunos”.
A secretária de Saúde do município, Ana Carolina Colla, explica que o SUS está voltado para ajudar essas pessoas e que em Bonito o lugar mais preparado para atender as famílias e os pacientes é o CAPS.
O CAPS está localizado na R. Geraldo Leite, nº 116-224, Vila América – telefone (67) 3255-2125, bem como psicólogos disponíveis no ESF Centro, na Avenida Pilad Rebuá.
Dados –
Mato Grosso do Sul é o quarto estado do Brasil com maior índice de suicídios.
Homens entre 10 e 25 anos são os que mais tiram a vida no mundo. Mulheres representam o maior número em tentativas de suicídio.
Em torno de 40 a 50 pessoas se matam no por dia no Brasil. Enquanto 1 caso é confirmado, 20 outros são subnotificados, ou seja, para cada morte, são 20 tentativas.