Quando florescem os ipês

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Por Tania Maria Pellin
Graduada em Pedagogia pela Faculdades Integradas de Naviraí –
FINAV, em 1996, Naviraí/MS. Especialista em Psicopedagogia pelo Centro
Universitário da Grande Dourados – UNIGRAN, em 2007, Dourados/MS. Atua como
professora na Fundação Lowtons de Educação e Cultura – FUNLEC/ Bonito/MS. 

Muitas pessoas levam seus cães para passear; eu levo meus olhos para passear, eles se encantam com tudo (Rubem Alves)

Para o genial Rubem Alves, o objetivo da educação é criar a alegria de pensar e dos ipês fazer o contrário de outras árvores, Gosto dos ipês de forma especial. Questão de afinidade. Alegram-se em fazer as coisas ao contrário. As outras árvores fazem o que é normal – abrem-se para o amor na primavera, quando o clima é ameno e o verão está prá chegar, com seu calor e chuvas. O ipê faz amor justo quando o inverno chega, e a sua copa florida é uma despudorada e triunfante exaltação do cio (UM IPÊ AMARELO UMA PAINEIRA BRANCA poemas encontrados na prosa de Rubem Alves seleção e transcrição de Carlos Rodrigues Brandão).

Na perfeição da Natureza, cada espécie tem seu ciclo. Algumas nos encantam, outras nos deixam perplexos com tanta beleza! No caso dos ipês, lentamente, depois da queda das folhas, o encantamento começa a surgir. O orvalho sereno das madrugadas frias as desperta e, em poucos dias começamos a contemplar algumas tímidas flores, que chegam anunciando: O auge da beleza está prestes a romper. Assim, a Natureza se põe em festa! Ouvimos o suave canto dos sabiás, dos canários e tantas outras espécies que encantam em nossa vasta flora. Assim como encantou o alemão, Carl von Martius, responsável pela classificação de metade de nossa flora e biomas, ainda no século XIX GUIMARÃES, Luiz Salgado Guimarães. História e natureza em von Martius: esquadrinhando o Brasil para construir a nação. Análise • Hist. cienc. saúde-Manguinhos 7 (2), out, 2000).

Fotos: Jabuty

E … nos meados do mês de julho, em pleno inverno, acontece! Elas surgem… As adoráveis flores dos ipês. Aqueles que possuem a sensibilidade e a beleza no olhar, contemplam, ficando fascinados com tamanho espetáculo. A paciência em se colocar a observar tal fenômeno, não é para muitos.

Delicadamente, as flores começam a deixar a mãe árvore, alçando um breve voo, tentando imitar os pássaros que livres sobrevoam sobre elas. Lentamente, uma, depois outra e mais outra, começam a deslizar, caindo por fim ao solo. Em instantes, um lindo tapete começa a se formar. De várias tonalidades, roxo, branco, amarelo, vão sem pressa colorindo o ambiente. Festejando como que num passe de mágica algo inexplicável que está por vir.

Apenas consegue visualizar tudo isso, aquele que em sua essência, consegue vislumbrar algo tão perfeito que cativa e nos faz sonhar …  Sonhar com um mundo ainda em construção, que talvez um dia, se o homem assim permitir, reinará em paz.

Diante da beleza imensurável dos ipês, da até vontade de fazer poesia, assim como Rubem Alves, “O que sinto, na verdade, é tristeza. O mundo é muito bonito! Gostaria de ficar por aqui… Escrever é o meu jeito de ficar por aqui. Cada texto é uma semente. Depois que eu for, elas ficarão. Quem sabe se transformarão em árvores! Torço para que sejam ipês-amarelos (Rubem Alves).

Quando florescem os ipês.

A Natureza se põe em festa,

Cada árvore se adorna com sua vestimenta dos mais variados tons.

Os pássaros festejam com seus cantos exuberantes!

O vento por sua vez,

Vai tocando suavemente as flores multicoloridas

E estas deslizam suavemente, até alcançar o chão.

Como uma majestosa coreografia,

Cai uma, depois outra e mais outra.

Todas querem fazer parte do show!

Majestosamente tudo fica colorido,

Em perfeita harmonia, há paz!    (Tania Pellin).

Fotos: Jabuty

A singela poesia quando floresce os ipês é de minha autoria, os ipês da autoria do Criador e a inspiração de Rubens Alves.

O Ipê amarelo é considerado a flor símbolo do Brasil, embora a proposta do Ministério da Agricultura de 07 de agosto de 1961, enviada ao Presidente da República Janio da Silva Quadros, e reenviada ao Congresso Nacional em 25 de agosto de 1961 não tenha se tornado lei. Na exposição de motivos, o Ministério da Agricultura enfatiza: “Trata-se, com efeito, de uma das mais belas flores das matas naturais brasileiras. Além disto, a espécie cresce de norte a sul do país e é sobejamente conhecida e admirada pelas populações do interior e da zona litorânea, pois tem sido cantada por nossos poetas e escritores” (Exposição de Motivos Ministério da Agricultura, Brasília 7 de agosto de 1961).

Ao receber mensagem do Poder Executivo, o Congresso Nacional procedeu como de praxe, enviou a proposta as Comissões Permanentes da Casa recebendo o número 3380/61 para tramitação. A Comissão de Constituição de Justiça aprovou a proposta somente em 15.06.1962, cujo Relator foi o Deputado Federal Pedro Aleixo. Em seguida foi aprovada pela Comissão de Economia em 25.04.1963, sendo Relator da matéria o Deputado Federal Teotônio Neto.

Cabe salientar, que um dos Membros da Comissão de Constituição e Justiça onde a matéria foi aprovada foi Wilson Fadul. O referido deputado era filho de André Fadul, comerciante libanês. Fadul, formou-se em Medicina na Cidade de Niterói-RJ, quando em 1946 ingressou na Aeronáutica e veio servir na Base Aérea de Campo Grande – MS, tornando-se Prefeito de Campo Grande de 1953-1955.

A bandeira do Líbano, país de origem do pai de Wilson, possui no centro uma faixa branca e um desenho estilizado na cor verde do cedro do Líbano, representando força e eternidade, mais do que um compromisso como Deputado Federal, Fadul votou com o coração, votou pelo ipê de Rubem Alves.

O nosso ipê também representa o coração de todos nós, sempre a embelezar qualquer natureza. Rubem Alves, Amo os ipês, mas amo também caminhar sozinho. Muitas pessoas levam seus cães a passear. Eu levo meus olhos a passear. E como eles gostam! Encantam-se com tudo. Para eles o mundo é assombroso! Rubem Alves, o educador da sensibilidade, deixou uma carta com seu desejo de ter suas cinzas enterradas sobre a eterna sombra de um ipê. Se Moisés estivesse no Brasil, a sarça ardente seria um ipê ardente.

Apesar de ter sido aprovado nas Comissões Permanentes do Congresso Nacional, a proposta 3380/61 que tornava o Pau Brasil árvore símbolo do Brasil e o Ipê flor símbolo do Brasil, não chegou a ser levada a plenário. Através da Mensagem 142/1972 de 08.06.1972 o Poder Executivo Federal solicitou a retirada da Mensagem 464/1961 que tratava do Pau Brasil e do Ipê, sendo a mesma aprovada em 09.06.1972.

Ao solicitar essa retirada a proposta nem foi levada a plenário e consequente não aprovada, portando a iniciativa de tornar o Ipê flor símbolo do Brasil não se tornou lei.

A beleza dos ipês fala por si, é pura magia e encantamento, não precisam de lei, já são símbolos pela obra do Criador, quando florescem a natureza se põe em festa.

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