Amor de Primavera

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Por Tania Maria Pellin

Ao raiar da juventude, aquele belo moço vivia seus dias como se não existisse o amanhã. Assim que o sol invadia seu quarto pelas frestas da janela, ele rapidamente pulava da cama. De um único salto lá estava ele, abria lentamente a imensa janela de madeira, que parecia  saudar-lhe com seu rangido habitual. Ele respirava fundo o puro ar do campo, olhava com admiração a imensa confusão dos pássaros, ajeitava seus negros cabelos, e com um sorriso sarcástico e malicioso calçava seu chinelo de couro e, se colocava a descer as escadas para saborear um delicioso café ao pé do fogão.

Tudo parecia igual, todos os dias, as horas passavam lentamente. As preocupações eram sempre as mesmas, cuidar dos animais, trazer lenha para o fogo e auxiliar seu velho pai no que necessitasse. Aquela doce rotina não apresentava temores. Era sempre tudo semelhante.

No final da tarde o belo moço, depois de uma longa cavalgada tirava a traia do seu Mangalarga Marchador, um genuíno brasileiro, ao qual ele tinha muito estima. Deixava-o ali na estrebaria e andando sem pressa, dirigia-se a sombra do grande ipê amarelo, que sempre floria, e este dia ele estava mais florido que nunca.  Deitou-se e olhava as flores, e as mesmas lentamente caiam em sua face. Felicidade maior não existia, pensava ele.

Mas os dias iam passando, e seu jovem coração começa a sonhar. Deseja, almeja algo além de tudo aquilo que sempre o fez feliz. E neste momento, o belo moço começa a lançar seu olhar  além das montanhas daquele paraíso.

Às vezes, mudar os sonhos, deixar que eles nos levem é perigoso! Seria prudente não vacilar. E o belo moço, vacilou!

Quando ele desejou voar mais alto que as montanhas ele começou a perder a verdadeira felicidade. Em uma bela tarde de primavera, o jovem vai à cidade para fazer compras. Sempre admirando as belezas do caminho, flores, pássaros e coelhos a correr por entre os arbustos. Fazia parte dos afazeres ir a cidade, mas nada o cativava, ele vivia para sua família e nem sonhava em enamorar-se.

Porém, este dia marcou sua vida. Ao sair daquele comércio ele, sem perceber, ao acaso acaba esbarrando em uma linda donzela. Ao virar para desculpar-se, o moço se encanta com tamanha beleza. Aquele olhar penetra em seu coração e por um instante, os olhares demonstram ternura e afeição. O destino, por assim dizer, coloca em sua frente aquela a quem ele jamais esqueceria.

Nas semanas que seguiam, ele sempre arranjava uma desculpa para ir até a cidade. Sempre procurando pela linda donzela. Nem seu nome ele sabia, mas se a reencontrasse no mesmo instante a reconheceria. Semanas, meses se passaram e ele não mais a encontrou.

A tristeza toma o coração do jovem sonhador. Os dias, de repente tornaram-se sombrios e tristes. O campo, já não mais o cativava como em outrora.

A donzela lhe rouba a paz, sem saber. Seria um encantamento, uma paixão? Talvez ela também estivesse a sofrer por ter encontrado ao acaso, um lindo jovem em uma bela tarde de primavera.

O amor pode ser perigoso quando não compreendido, pode nos levar por caminhos dos quais se torna difícil retornar.

Quem sabe, em outra primavera, o destino marque um encontro para jovem com sua linda donzela, aquela a quem ele se enamorou com apenas um olhar.

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