“Pessoas trans são sexualizadas pela sociedade. Não se contratam mulheres trans por isso”. Bonito + entrevista mulher trans no Dia da Visibilidade Trans

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Conversamos com a Laryssa Hoffman nesta sexta-feira, 29, dia muito especial para ela e outras pessoas trans. O 29 de janeiro foi escolhido como o Dia da Visibilidade Trans, data instituída com o objetivo de aumentar a conscientização sobre a letra T da siga LGBTQI+, que representa as pessoas travestis, transexuais e transgêneras.

O processo de transição, a relação com a família e com o mercado de trabalho, os sonhos pro futuro e conselhos para quem está enfrentando desafios parecidos com os seus. Tudo isso a Laryssa conversou com a gente aqui nesta conversa com o Bonito +. Veja:

 

BONITO +  : Laryssa, em que sigla você se encaixa?

LARYSSA HOFFMAN – Sou transexual.

“saí de casa pra poder iniciar minha transformação. Como meu pai é pastor tem as questões religiosas”

BONITO +  : Como foi sua infância? Em que momento você descobriu que havia algo diferente em você?

LARYSSA HOFFMAN – Meus pais são separados, eles são nordestinos, eles vieram morar em Campo Grande quando eu era criança. Daí eu fui criada pelo meu pai, meu pai é pastor de igreja. Eu demorei na verdade bastante tempo pra me assumir como pessoa transexual por conta da religião do meu pai e por conta dele ser nordestino, sabe… Mas eu já percebia desse a infância que eu tinha alguma coisa diferente por eu não me enquadrar nos padrões da sociedade. E por minha família me cobrar bastante do fato de eu nunca ter me envolvido com meninas, essas coisas, eu sempre estava no meio delas, etc, sabe. Eu nunca gostei de ficar no meio dos meninos. Nunca ficava sem camisa… Saí de casa com 17 anos e fui morar com outras meninas trans.

 

BONITO +  : Foi doloroso o processo de comunicar isso com a sua família?

LARYSSA HOFFMAN – Na verdade eu nunca disse nada a eles. Simplesmente saí de casa pra poder iniciar minha transformação. Como meu pai é pastor tem as questões religiosas. Hoje em dia através do meu comportamento eles têm uma outra visão sobre transexualidade. Temos um convívio melhor, porém antes não era possível até por que a sigla “T” sempre foi marginalizada pela sociedade.

“Protestantes fundamentalistas não acreditam na nossa fé. E vivem a esperança que a qualquer momento seremos ‘curadas'”

BONITO +  : E como você se sente hoje? Ainda marginalizada pela sociedade?

LARYSSA HOFFMAN – As coisas mudaram muito nesse processo.  Hoje temos lei, suporte.  Mas ainda há muito a fazer. Uma parte da sociedade não está acostumada a nos enxergar nos espaços sociais. Muitos acreditam que nossos espaços são as esquinas,  que somos objetos. Mas devemos sempre nos manter fortes. Ter o respeito da minha família e amigos me ajuda a me manter forte pra continuar na luta.

 

BONITO +  : Em que momento da vida a discriminação foi mais forte pra você?

LARYSSA HOFFMAN – Quando vivia dentro da igreja.  No começo da minha adolescência. Quando a puberdade começou a aflorar somos muito cobradas. Isso me fez abandonar mais rápido a doutrina pra ir em busca da minha realização enquanto pessoa e mulher transexual. Protestantes fundamentalistas não acreditam na nossa fé. E vivem a esperança que a qualquer momento seremos “curadas”.

“Mulheres trans passáveis são bem mais ‘aceitas’, do que as que não seguem um certo padrão de feminilidade”

BONITO +  : Sente discriminação no mercado de trabalho? Acha que o preconceito  dificulta vc conseguir uma colocação?

LARYSSA HOFFMAN – Muito.  Veja bem pessoas trans são sexualizadas pela sociedade.  A maioria das pessoas não contratam mulheres trans por isso. Hoje temos muitos meninos trans no mercado, mas mulheres tem bem poucas.  Muitos patrões não sabem como seria a reação da sociedade ao ver uma mulher trans em um balcão de loja, como seria a aceitação. Mulheres trans passáveis são bem mais “aceitas”, do que as que não seguem um certo padrão de feminilidade. Outra questão é a falta de escolaridade. A defasagem escolar é bem grande na minha classe e isso prejudica a inserção no mercado de trabalho.

DIA DA VISIBILIDADE TRANS
“Ter o respeito da minha família e amigos me ajuda a me manter forte pra continuar na luta”, diz Laryssa Hoffmann.

BONITO +  : Você estuda?

LARYSSA HOFFMAN – Não. Parei quando saí de casa.

 

BONITO +  : Em que série?

LARYSSA HOFFMAN – No 3º ano  do ensino médio.

 

BONITO +  : Gostaria de fazer uma faculdade?

LARYSSA HOFFMAN – Sim…  Assistência Social. Meu maior sonho na verdade

 

BONITO +  : Por que Assistência Social?

LARYSSA HOFFMAN – Pra ajudar as pessoas, principalmente dentro da minha classe. Eu acredito que muitas meninas no começo da transição se sentem perdidas e com falta de apoio. A taxa de suicídio é muito alta.

 

BONITO +  : E como foi a sua transição?

LARYSSA HOFFMAN – Foi bem difícil e lenta. Eu só fui aparecer na casa dos meus pais depois de um tempão. Tinha muito medo da reação deles. Lembro-me até hoje que chamei meu melhor amigo pra ir no meu Natal com minha família quando todos se reúnem. Eu tinha medo de ser expulsa. Lembro que foi um choque, mas tudo ficou bem no fim.

 

BONITO +  : Por essa rejeição… você chegou a ter raiva da sua família?

LARYSSA HOFFMAN – Raiva não. Mas tive muita tristeza por não ter tido apoio deles em muitas etapas na vida.

 

BONITO +  : Hj, se sente acolhida?

LARYSSA HOFFMAN – Sim… Mas me sinto bem mais acolhida  por meus amigos.

 

BONITO +  : Sobre a sua transição,  que mudanças você já realizou no seu corpo?

LARYSSA HOFFMAN –  Prótese no seios, duas vezes rinoplastia e silicone nos quadril.

LARYSSA HOFFMAN
“É incrível. Eu me encontrei depois da minha transição”.

BONITO +  : A cirurgia da mudança de sexo é um objetivo?

LARYSSA HOFFMAN – Futuramente.

 

BONITO +  : Hoje, você como uma mulher trans que passou por todo este processo de transição… você olha pra outras pessoas que ainda não passaram por este processo, ou que estão passando por ele… que conselho você daria para essas pessoas?

LARYSSA HOFFMAN – Siga em frente na busca de seus propósitos e jamais percam a fé. É incrível. Eu me encontrei depois da minha transição.

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